É falsa a informação de que o medicamento Flutamida é a cura para Covid-19

 É falsa a informação de que o medicamento Flutamida é a cura para Covid-19

 

Mais uma desinformação no tocante a cura da Covid-19 tem ganhado força nas redes sociais. Dessa vez, o destaque foi para um vídeo gravado e publicado no Facebook pelo médico Luiz Maciel Cardoso, do Rio Grande do Sul, que afirmou ter descoberto a cura para a doença através do medicamento flutamida.

Recebemos, por meio de parceria com o aplicativo Eu Fiscalizo da Fiocruz (disponível para Android e iOS), um vídeo publicado pelo médico residente no município de São Gabriel, Sul do país, que afirma ter descoberto a cura para o novo coronavírus.

Em uma gravação de aproximadamente seis minutos, o profissional de saúde aponta a flutamida, um medicamento bloqueador de hormônios masculinos como a solução da pandemia da covid-19. O vídeo que circulou pelas redes sociais, ganhou destaque após o médico escrever na legenda: “a Covid-19, como conhecemos, acabou! Flutamida a partir do 7⁰-8⁰ dia, com acompanhamento médico, nos casos que não evoluem para a remissão após a primeira fase!”.

Legenda: Profissional de saúde em vídeo afirma ter encontrado a cura da Covid-19 usando medicamento que bloqueia hormônios masculinos. Imagem: Reprodução

Com informações do Estadão Verifica – Checagem de fatos e desmonte de boatos –, a informação sobre ter encontrado a cura para a Covid-19, propagada pelo médico de São Gabriel, no Rio Grande do Sul, Luiz Maciel Cardoso, é falsa. O medicamento flutamida, indicado pelo profissional de saúde, não cura a Covid-19, como ele afirma. Ao contrário, bloqueia os hormônios masculinos.

O Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul (CREMERS), em nota publicada em seu site e nas redes sociais, afirmou também que a recomendação do médico é falsa. Segundo o conselho, “não há evidências científicas que comprovam que o uso do medicamento seja eficiente no tratamento contra a Covid-19 e mesmo nos casos de pesquisa científica e clínica, há um rigoroso procedimento a ser seguido e que depende da autorização de diversas entidades, dentre as quais o Conselho Federal de Medicina”, destacou o órgão.

Usado também no tratamento do câncer de próstata em estágio avançado, a flutamida, assim como outros medicamentos, quando usados sem indicação ou comprovação de eficácia, pode trazer riscos à saúde da população. O CREMERS destacou ainda que em 2004, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) emitiu um alerta sobre o uso do medicamento de forma inadequada pelo público feminino, no tratamento de doenças como alopecia, hirsutismo e acne, causando o óbito de pacientes.

Além do CREMERS, o Hospital Santa Casa de São Gabriel, onde Luiz Maciel Cardoso trabalha, também emitiu uma nota afirmando não reconhecer o tratamento mencionado pelo médico em suas redes sociais. Diante da postura de Cardoso, o Conselho Regional de Medicina abriu uma sindicância para apurar a conduta do médico.

Por não ter eficácia no tratamento da doença e por não haver segurança quando administrado, o protocolo indicado pelo médio Luiz Maciel não tem o respaldo das autoridades de saúde. Diante disso, o Facebook removeu o conteúdo original publicado pelo profissional em seu perfil, mas não conseguiu impedir que o vídeo circulasse em outras redes sociais e no WhatsApp.

Além de ser divulgado em sua própria rede social, o discurso do médico foi impulsionado também por um vídeo gravado pelo vereador da cidade de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, Rodinei Candeia (PSL). Após as manifestações contra a indicação do médico, o vereador publicou uma retratação em suas redes sociais. 

Luiz Maciel Cardoso citou no vídeo e em postagens anteriores que sua escolha pelo medicamento flutamida se baseou em um estudo brasileiro de sua própria autoria, conduzido no Amazonas, sem publicação e revisão científica. A pesquisa mencionada por ele destaca que 300 pacientes receberam a medicação e outros 300 um placebo, sendo que 150 dos que receberam o placebo morreram e apenas 12 entre os pacientes tratados com flutamida vieram a óbito.

O resultado significativo da substância sobre a mortalidade e o agravamento da doença foram apresentados somente em uma coletiva de imprensa. O trabalho ainda não foi publicado e nem passou pela revisão de outros cientistas independentes.

Em entrevista para o Estadão Verifica, especialistas enfatizam que “é necessário ter cautela, visto que não há comprovação científica da flutamida contra a Covid-19, uma vez que os detalhes da pesquisa ainda não estão disponíveis e a qualidade do estudo é incerta”.

Para o CREMERS, a divulgação de um conteúdo como esse, sem comprovação ou eficácia alguma, é preocupante. “A disseminação desse tipo de conteúdo têm preocupado a classe médica. Esse foi um tratamento experimental, não científico, que precisa ser averiguado pelos especialistas antes de informado a população sobre seu real benefício”, esclareceu o vice-presidente do Cremers, Eduardo Neubarth Trindade.

Equipe NUJOC

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