É fato que o consumo de hidroxicloroquina na Itália cresceu 4.662%, mas uso é desautorizado no país
Publicação vem sendo compartilhada com a intenção de refutar as recomendações contrários ao uso da hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19
O Nujoc Checagem, por meio da parceria com o aplicativo Eu Fiscalizo da Fiocruz, recebeu a postagem publicada em um perfil de apoio ao ministro Paulo Guedes (Economia) como sugestão de verificação (veja imagem acima). A publicação afirma que o consumo de hidroxicloroquina na Itália cresceu 4.662%. Após verificação, o Nujoc Checagem confirmou que a postagem é verdadeira, mas é necessário ressalvas a ela.
Em relatório divulgado pela Agência Italiana de Medicamentos (AIFA) em 29 de julho de 2020 são apresentados os dados sobre o uso de medicamentos durante a epidemia de Covid-19. A agência informa que “a maior diferença em termos absolutos entre o período pré e pós COVID é encontrada para [o uso de] hidroxicloroquina e azitromicina” e que “o maior aumento em termos de mudanças percentuais foi encontrado para hidroxicloroquina que registrou uma variação de 4.662%”. O relatório completo está disponível aqui.
Mesmo sem comentários na publicação verificada, o material tem sido divulgado com a intenção de refutar as recomendações contrárias ao uso do medicamento para tratar a Covid-19. Vale ressaltar que o crescimento do consumo não implica que ele seja eficaz. Aqui no Brasil acontece movimento semelhante ao da Itália, fortemente incentivado pelo presidente Jair Bolsonaro. Assim, embora muitas pessoas estejam fazendo uso profilático da hidroxicloroquina, isto não significa que o medicamento terá, de fato, efeito positivo.
Buscando por “idrossiclorochina agencia italiana del farmaco”, o Nujoc Checagem localizou uma notícia da própria AIFA com o título “AIFA sospende l’autorizzazione all’utilizzo di idrossiclorochina per il trattamento del COVID-19 al di fuori degli studi clinici” (AIFA suspende a autorização para o uso de hidroxicloroquina para o tratamento de COVID-19 fora dos ensaios clínicos), publicada em 26 de maio de 2020, com atualização em 29 de maio, ampliando as recomendações também para o uso da cloroquina.
No texto, a agência afirma que nunca autorizou o uso da hidroxicloroquina para fins preventivos. Entretanto, inicialmente, “a posição da Agência foi a de prever a sua utilização, nas dosagens e nos tempos indicados nas fichas, no contexto de uma avaliação precisa da relação risco/benefício em casos individuais, tendo em atenção as patologias concomitantes”. O comunicado continua dizendo que, quando foi publicado, a AIFA observou as novas evidências clínicas do uso da hidroxicloroquina em infectados com o coronavírus, as quais “indicam um risco aumentado de reações adversas em face de de pouco ou nenhum benefício”.
Diante disso, a AIFA suspendeu a autorização para o uso de hidroxicloroquina para o tratamento de SARS-CoV-2 fora dos ensaios clínicos, deixando “qualquer continuação dos tratamentos já iniciados a cargo da avaliação do médico assistente”. Em documento anterior, publicado em 1 de abril de 2020, a AIFA havia se posicionado apenas pelo uso autorizado (como é o caso do lúpus e da malária), uso em ensaios clínicos e uso de emergência para o tratamento da Covid-19.