FDA não autorizou uso de cloroquina e hidroxicloroquina para uso geral em pacientes com COVID-19

A mensagem acima tem sido amplamente divulgada nas redes sociais, mas apresenta uma série de afirmações falsas ou inconclusivas – Foto: Reprodução

A postagem acima, atribuída à jornalista Elisa Robson, afirma que o uso da hidroxicloroquina foi liberado pela FDA para uso por todos os pacientes com a COVID-19. Há diferentes versões da suposta notícia, com o mesmo texto, sendo compartilhadas em redes como o Facebook, Instagram e WhatsApp. A jornalista, cujo nome verdadeiro é Elisângela Machado dos Santos de Freitas, foi candidata à deputada federal nas eleições de 2018 e também foi assessora parlamentar no gabinete do senador Flávio Bolsonaro.

A FDA (U.S. Food and Drug Administration) é uma agência federal americana, vinculada ao Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos e responsável pela regulamentação de medicamentos e alimentos nos EUA.

A FDA autorizou, no dia 28 de março, o uso do medicamento para tratar casos específicos da doença, a saber adolescentes (que pesem mais de 50kg) e pacientes adultos hospitalizados com a COVID-19, quando não houver testes clínicos disponíveis. Esta permissão emitida pela FDA é a chamada autorização de uso emergencial (emergency use authorization).

Há casos reportados de pacientes que melhoraram a sua condição após o fosfato de cloroquina e o sulfato de hidroxicloroquina serem administrados. Entretanto, segundo a FDA, não é possível saber se foram estes medicamentos que levaram tais pacientes a um quadro de melhora ou se outros fatores estavam envolvidos. Tais casos foram usados como justificativa para a autorização de uso emergencial, mas sob as condições supracitadas e não para uso geral. A FDA também não recomenda a automedicação. Estas drogas só devem ser administradas sob supervisão médica.

Dentro do site da FDA, na seção FAQ (em português, “perguntas frequentes”), a agência afirma: “there are no FDA-approved therapeutics (drugs) to treat COVID-19 or other coronaviruses”. Ou seja, não há drogas aprovadas pela FDA para tratar a COVID-19 ou outros tipos de coronavírus.

Além disso, em uma busca rápida pelo termo “fda approves hydroxychloroquine covid-19” no site de buscas Google, não é possível localizar notícias que comprovem a mensagem que vem sendo compartilhada em diferentes redes sociais.

Em 31 de março, a FDA lançou um novo programa para acelerar o desenvolvimento de tratamentos potencialmente seguros e efetivos na luta para salvar vidas, o Coronavirus Treatment Acceleration Program. A agência americana afirma ainda que tem trabalhado de perto com as fabricantes para agilizar o desenvolvimento de tratamentos para a COVID-19.

Mais informações sobre o que foi permitido pela FDA, os efeitos colaterais do uso do sulfato de hidroxicloroquina e cloroquina no tratamento da COVID-19 e outras perguntas frequentes podem ser encontradas neste documento (em inglês).

Já em outro trecho da postagem, afirma-se que “o CEO da Novartis anunciou que já tem em mãos os resultados de pesquisas que comprovam que a hidroxicloroquina mata o vírus. Tanto que a empresa vai doar 130 milhões de doses”.

Aqui uma notícia verdadeira foi colocada em meio a outras afirmações falsas, induzindo o leitor ao erro. Embora a Novartis tenha, de fato, anunciado a doação de 130 milhões de doses da hidroxicloroquina, ela não será feita porque pesquisas comprovam que a hidroxicloroquina mata o novo coronavírus.

A doação é feita justamente para dar continuidade à fase de testagem da eficácia do medicamento, que atualmente é indicado para tratar casos de lúpus, malária e artrite. Mesmo com o anúncio das doações, o uso do remédio não foi previsto de forma imediata pela Novartis, tendo em vista que é necessária a aprovação por agências regulatórias, como é o caso da FDA.

No comunicado, de 30 de março de 2020, a Novartis afirma que a hidroxicloroquina e a cloroquina (uma droga relacionada), estão atualmente sob testes clínicos para o uso em tratamento da COVID-19.

Ademais, é preciso lembrar que a FDA responde apenas pelo uso do medicamento nos EUA. No caso do Brasil, é necessária a aprovação pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), órgão responsável pela liberação do uso de medicamentos em nível nacional, seguindo uma série de etapas.

Quanto ao suposto anúncio feito pelo CEO da Novartis, Vas Narasimhan, de que já teria em mãos os resultados de pesquisas que demonstram a eficácia da hidroxicloroquina para matar o coronavírus, trata-se de uma mensagem falsa.

Segundo divulgado pelo site Yahoo Finance, o que o CEO da Novartis de fato defende é que a hidroxicloroquina é a maior esperança da companhia contra o coronavírus no momento.

Na esteira desse relato, alguns dias antes (em 27 de março de 2020), Narasimhan ponderou, em entrevista à CNBC, que ainda é muito cedo para afirmar se a droga pode funcionar no tratamento contra a COVID-19. Isto porque os estudos feito até o momento são, de fato, promissores, mas não foram conduzidos em seres humanos, tornando qualquer afirmação nesse sentido precipitada.

Ele também disse, em entrevista à Bloomberg, que o desenvolvimento da vacina contra o coronavírus pode demorar mais de um ano, conforme a previsão que outros especialistas e pesquisadores já têm feito.

“Precisamos entender a biologia do vírus, quão transmissível é, qual a sua taxa de fatalidade. Ainda há muito que precisamos aprender. A curto prazo, a melhor chance é testar antivirais já existentes, e muitas fabricantes estão doando medicamentos ao governo chinês para que ele teste se são eficazes (contra o 2019-nCoV)”, disse Narasimhan, segundo reportado pelo site do jornal O Globo.

Equipe NUJOC

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