Máscaras não provocam excesso de dióxido de carbono no sangue

 Máscaras não provocam excesso de dióxido de carbono no sangue

Mensagem falsa traz diversas afirmações infundadas contra o uso da proteção facial

Recentemente passou a circular pelas redes sociais mensagem sobre supostos riscos do uso de máscaras, medida recomendada pela Organização Mundial da Saúde – OMS e adotada por diversos países para conter a disseminação do novo coronavírus. A mensagem traz uma série de inverdades em forma de frases curtas, que compõem uma espécie de painel em torno da figura de uma máscara. Elas seriam as respostas para a pergunta em destaque no centro superior da figura: “A máscara é eficaz?”.

Respostas falsas: máscaras não representam risco. Ilustração: reprodução/WhatsApp

Eis algumas das frases que ilustram a mensagem e que estariam associadas ao uso da máscara:

Impede a correta respiração
Respira-se teus próprios resíduos expelidos
Impede a oxigenação pulmonar
Produz sensação de asfixia
Provoca hiperventilação
Intoxicação por micro partículas do material
VOCÊ RESPIRA TEU
PRÓPRIO C02
GÁS CARBÔNICO
Produz a Síndrome da Hipercapnia
Manifesta-se pelo excesso de dióxido de carbono (Co2) na corrente sanguínea. O problema surge pela falta de ventilação pulmonar, em que a insuficiência respiratória e o esforço para controlá-la, faz com que se inale muito Co2 e que acaba não sendo mais expelido depois.
Só tem uma explicação para sermos obrigado a usar: SERÁ QUE A O.M.S QUER NOS MATAR LENTAMENTE?

A mensagem é fake. Os principais veículos de checagem vêm desmentindo mensagens semelhantes, como é o caso do G1, que verificou a afirmação de que o uso de máscaras provoca a hipercapnia, excesso de dióxido de carbono no sangue, e impede a oxigenação pulmonar.

Consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia, o médico Leonardo Weissmann, ouvido pelo G1, foi categórico ao avaliar a mensagem: “Essa é mais uma das inúmeras informações falsas que estão circulando sobre a pandemia. O uso da máscara não causa nem hipóxia [falta de oxigenação do sangue] nem intoxicação pelo dióxido de carbono”. O texto do G1 você pode acessar aqui.

Sobre a sensação de sufocamento, ela de fato pode ocorrer, mas somente naquelas pessoas que já apresentam quadro de insuficiência respiratória. A sensação de calor também pode ocorrer, mas não compromete as trocas aéreas da respiração. É tudo uma questão de hábito, dizem os especialistas.

Para além das fake news, há pelo menos um artigo recente, publicado na revista Nature Medicine, que demonstra a eficácia das máscaras cirúrgicas na diminuição do risco de transmissão do novo coronavírus. Ele pode ser acessado aqui. Quanto às máscaras de tecido, elas agem como uma barreira mecânica e impedem que um usuário assintomático propague o vírus.

Mudança de hábito – O uso da máscara, que se tornou um acessório indispensável no contexto da pandemia, gerou debate sobre a simbologia do equipamento facial. A mensagem fake traz afirmações nesse sentido: a máscara representaria o mutismo e produziria falta de liberdade física e psicológica. Mas o cuidado – consigo e com o outro – é de fato a principal simbologia associada à máscara, como mostram os profissionais da saúde cotidianamente.

A médica pneumologista Patricia Canto Ribeiro, da Escola Nacional de Saúde Pública, ouvida pelo G1, argumenta: “Se o conteúdo da mensagem fosse verdadeiro, ninguém poderia passar por cirurgia, porque, em grandes processos cirúrgicos, o cirurgião passa seis, oito, dez horas de máscara. Os médicos que trabalham com terapia intensiva colocam os equipamentos de proteção todos, máscaras que são até mais grossas, e tiram poucas vezes ao dia, somente para comer e beber água. Não faz sentido algum o que está escrito”.

Origem – O uso das máscaras para combater epidemias se popularizou a partir da Peste da Manchúria de 1910, na China. O médico malaio-chinês Wu Lien-teh, ridicularizado pelo uso do equipamento, foi posteriormente reconhecido pela comunidade científica por sua contribuição no combate àquela epidemia. Desde então a máscara passou a ser um acessório muito comum nos países asiáticos, como mostra essa reportagem aqui do site 99% Invisible.

Wu Lien-teh: pioneiro. Imagem: 99% Invisible

O médico Dráuzio Varela também ressaltou essa questão da diferença cultural e da progressiva aceitação da máscara na cultura ocidental em uma live feita para o jornal Folha de S.Paulo. Ele vê como inevitável a mudança de atitude entre nós, brasileiros, para muito além do contexto da pandemia: “A restruturação da vida social vai ser ditada pela presença ou não do vírus”.

Live do dr. Drauzio Varella: usem a máscara. Fonte: reprodução/Youtube

Drauzio lembra o estranhamento causado pelo uso de máscaras por asiáticos em eventos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas: “É uma civilização que acostumou a conviver com esses vírus que se transmitem dessa forma, e aprendeu que máscara protege. Nós temos que ter o uso de máscara obrigatoriamente. (…) Quanto mais barreiras a gente conseguir criar, melhor”.

O mesmo se aplica ao aperto de mãos, que facilita a propagação de doenças infecciosas, e por isso deve ser evitado: “Com as mãos nós somos uma vergonha”. Confira a live completa do médico Drauzio Varella aqui.

Essa mesma percepção sobre a naturalização das máscaras foi compartilhada pelo então ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta. Ele afirmou em 07 de abril que o uso das máscaras tende a ser cada vez mais comum no país, e que elas vão estar mais presentes no vestuário cotidiano: “É comum quando a gente viaja mundo afora a gente encontra pessoas asiáticas todas com máscara, independentemente desse negócio de coronavírus agora”, disse o ministro, conforme você lê nesta matéria.

A máscara segue sendo equipamento essencial para evitar a propagação da pandemia da Covid-19, assim como também são indicados o isolamento social e a correta higienização das mãos.

Confira outras afirmações falsas sobre o uso de máscaras que já foram checadas pela equipe do Nujoc Checagem nesta matéria aqui.

O pedido de verificação desta matéria sobre o uso das máscaras chegou ao Nujoc Checagem por meio da parceria com a equipe do aplicativo Eu Fiscalizo, da FioCruz.

Equipe NUJOC

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