Mensagem contesta eficácia de medidas restritivas em São Paulo

 Mensagem contesta eficácia de medidas restritivas em São Paulo

Movimento no Viaduto do Chá durante a quarentena

Recebemos por meio do aplicativo Eu Fiscalizo da Fiocruz (disponível para Android e IOS) uma mensagem que questiona a adoção de medidas restritivas em São Paulo. Apesar do distanciamento social decretado pelo governador, a média móvel de novos casos de COVID-19 continua a subir, conforme é elucidado na mensagem a ser checada.

No texto, há ainda alegações que o estado está na fase vermelha desde o dia 06 de março, considerando como a fase mais restritiva. Contudo, a informação é inverídica, a fase mais restritiva em São Paulo é a emergencial que só foi adotada em 15 de março. O estado retorna para a fase vermelha nesta segunda-feira (12), permanecendo até o dia 18 de abril.

Mensagem coloca em dúvida eficácia das medidas restritivas ao abordar a média móvel de novos casos em São Paulo. Fonte: Reprodução

Com a mudança de fase, passará a ser permitido o retorno das atividades presenciais nas escolas das redes públicas e privadas, desde que concedido autorização pelas prefeituras, além da abertura de alguns serviços essenciais que estavam vetados e de competições esportivas profissionais.

Segue vetado o funcionamento de bares, restaurantes, academias e salões de beleza, além de celebrações religiosas presenciais.

Continua, ainda, o toque de recolher das 20h às 5h. O cumprimento da restrição de circulação continua a ser fiscalizado por uma força-tarefa composta por integrantes das vigilâncias sanitárias, Polícia Militar e Procon.

O G1 fez uma lista sobre as atividades que voltam ou não a funcionar. Confira aqui.

A fase emergencial estava em vigor desde o dia 15 de março para frear o aumento de casos e mortes por COVID-19 e reduzir a sobrecarga em hospitais públicos e particulares. O recrudescimento da pandemia exigiu prorrogação na medida no dia 26 de março, com término previsto para 11 de abril.

Com informações do Governo do Estado de São Paulo, as medidas mais rígidas de restrição, o avanço na vacinação e a expansão de leitos hospitalares resultaram em decréscimo de 17,7% em novas internações e de 0,5% ao dia em UTIs para pacientes moderados e graves com coronavírus.

Nesse sentido, fica evidente que as medidas de restrição social tiveram impacto positivo contrariando a afirmação do post verificado nesta matéria.

Eficácia das medidas de restrição social – Com informações da Revista Exame, um estudo doInternational Journal of Infectious Diseases pesquisou as medidas de 190 países entre 23 de janeiro e 13 de abril de 2020, durante a primeira onda da covid-19 pelo mundo. A análise levou em conta quatro tipos deintervenções não-farmacêuticas (NPI, na sua sigla em inglês) para a redução do coronavírus: o uso obrigatório de máscara em público; isolamento social ou quarentena; distanciamento social e restrição na mobilidade urbana.

Qualquer intervenção realizada isoladamente levou a uma redução significativa na transmissão do coronavírus: máscaras (-15,14%); quarentena (-11,40%); distanciamento social (-42,94%) e mobilidade urbana (-9,26%).

No entanto, as intervenções mais efetivas foram aquelas feitas com mais de um NPI, especialmente as que incluíram distanciamento social, prática recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) desde o início da pandemia. Já a intervenção mais comum nos países analisados foi a restrição na mobilidade urbana. 

Levando em consideração apenas a quarentena, houve uma diminuição de 10,6% na transmissão da covid-19. No momento em que combina com outros NPIs, a redução se intensifica: -17,83% com restrição ao transporte público, -38.58% com distanciamento social e -54.12% juntando os três.

Com a inclusão do último NPI, máscara obrigatória, o número chega a 62.81% na redução no número de novas infecções. “As combinações com mais tipos de NPIs pareceram estar associadas a uma maior diminuição na transmissão da covid-19”, conclui o estudo exposto na revista Exame.

Um exemplo evidente da eficácia da adoção de restrições sociais é pensar na cidade de Araraquara e comparar com a vizinha São Carlos, ambos municípios de São Paulo. Segundo o Jornal da USP, Araraquara chamou recentemente a atenção com o rápido aumento no número de infecções e óbitos associados à variante brasileira P.1., que se tornou predominante na cidade a partir de meados de fevereiro. Notadamente mais transmissível que a cepa original, a P.1. teve um efeito devastador e levou o sistema de saúde no município ao colapso. Como consequência, a prefeitura de Araraquara recrudesceu as restrições e decretou lockdown entre 21 de fevereiro e 2 de março. O efeito da medida está sendo sentido na diminuição no número de novos casos. Comparar as implicações do lockdown em Araraquara com uma população similar pode ser instrutivo.

São Carlos e Araraquara estão separadas por menos de 50 km e podem ser consideradas cidades irmãs, dadas as semelhanças em várias métricas. A população das duas cidades é de cerca de 245 mil habitantes e a densidade demográfica em São Carlos é de 223,8 hab./km² e a de Araraquara, 237,5 hab./km². As semelhanças vão além dos aspectos demográficos e geográficos. 

A queda inequívoca no número de novos casos em Araraquara parece resultar diretamente dos dez dias de lockdown, a partir de 21/2. Em 27 de fevereiro, a média móvel de novos casos diários atingiu o máximo de 138, a partir de então essa média vem caindo e chegou a 68 em 13 de março. Em São Carlos, a média móvel era de 86 em 27 de fevereiro e atingiu 112 novos casos em 13 de março, maior valor desde o início da pandemia. O aumento dos casos em São Carlos parece refletir a disseminação da nova variante, como observado semanas antes em Araraquara. Os resultados do lockdown de Araraquara são alvissareiros e trazem um certo alento e esperança sobre os efeitos das restrições que estão sendo adotadas em todo o País.

*Foto de capa: Rovena Rosa/Agência Brasil

Equipe NUJOC

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