Sêmen é eficaz contra o novo coronavírus?

 Sêmen é eficaz contra o novo coronavírus?

Não há nenhuma teoria médica que comprove tese.Postagem na internet sugere o uso de sêmen para tratar a Covid-19, mas a ciência alerta para outros riscos além do próprio coronavírus

Apesar das imprecisões da ciência quanto a essa forma específica de transmissão, não há confirmação da eficácia dessa forma de tratamento. Configura-se como situação de risco e ainda pode levar a outras infecções, inclusive,sexualmente transmissíveis.

Do início da pandemia até agora, foram muitas as tentativas para encontrar um remédio que pudesse combater as infecções ocasionadas pelo novo coronavírus. A lista de medicações testadas em busca de um resultado eficaz cresce a cada dia, e vai desde medicações para piolho até toda a polêmica envolvendo a cloroquina.

Até mesmo a ANVISA publicou uma retratação a respeito da Ivermectina, que vem sendo receitada em vários protocolos de saúde como tratamento profilático para tratar da Covid-19, ressaltando que o uso adequado da medicação se restringe apenas ao que está descrito na bula. 

Porém, uma novidade se soma a lista de indicações inusitadas para combater a doença: sêmen! Em uma postagem que circula pelas redes uma internauta recomenda tomar sêmen para combater o novo coronavírus. Nem precisamos dizer o quão absurdo essa indicação é, porém, a título de informação, vale a pena averiguar o que a ciência tem a dizer a respeito.

Na China, o Hospital Municipal de Shangqiu, através de um estudo publicado em 7 de maio de 2020, conseguiu detectar o novo coronavírus (SARS-Cov-2) no sêmen de alguns homens. Os pacientes tinham mais de 15 anos e foram atendidos nesse mesmo local com diagnóstico positivo para Covid-19 entre 26 de janeiro a 16 de fevereiro deste ano. Dos 50 pacientes selecionados, 12 não puderam fornecer amostra (por disfunção erétil, estado de coma ou morte). Um total de 38 pacientes, então, forneceram amostras de sêmen, que foram testadas para a presença de SARS-CoV-2. Entre esses 38 pacientes, 23 já estavam recuperados clinicamente e 15 ainda permaneciam no estágio agudo da doença.

Foi possível constatar nos resultados que a presença do vírus estava presente em 15,8% nas amostras de 6 pacientes. No quadro geral, 4 entre os 15 que ainda permaneciam na fase aguda da doença e 2 entre os 23 que já haviam se recuperado, ou seja, mesmo considerando os fatores de idade, diagnósticos positivos e negativos, tempo de internação ou recuperação, ainda foi possível detectar a presença do vírus no sêmen destes pacientes.

Ainda não se pode confirmar se é possível uma transmissão do novo coronavírus por essas vias, porém, visto que, nesse estudo em questão, foi possível detectar a presença do vírus no sêmen até mesmo de pacientes recuperados, a ingestão de liquido seminal configura uma situação de risco, e não apenas para Covid-19, mas para inúmeras outras infecções ocasionadas por ISTs (Infecções sexualmente transmissíveis), tais como sífilis, HPV e até HIV.

Outros tipos de coronavírus não são transmissíveis por meio de relações sexuais, porem como se trata de um novo vírus, não há nada comprovado até o momento, e considerando a dinâmica do contato físico durante as relações sexuais é possível alguém se infectar por gotículas de saliva durante o ato, ou até por outras situações. Foi detectada a possibilidade de transmissão da covid-19 por meio urina e fezes, então não se pode descartar de forma segura, possíveis infecções pelo liquido vaginal e pelo sêmen, por isso vale a pena ficar longe não só de beijos na boca, mas também de práticas como sexo oral, vaginal e anal.

Considerando que o vírus adentra o organismo por meio das mucosas dos olhos, boca e nariz, basta uma mão contaminada por secreções ser levada ao rosto para que a infecção aconteça.

“Não houve essa preocupação com a parte sexual ainda, mas teoricamente o sexo não existe sem contato íntimo. Isso poderia gerar o contato. Esse é um terreno que demanda pesquisa, mas a transmissão sexual é tão secundária que não vejo motivo para pesquisar isso. A não ser para conhecer totalmente o vírus”, comenta a infectologista da UNIFESP, Sandra de Oliveira Campos.

Entretanto, diante das incertezas que rodeiam a Covid-19, outro estudo realizado pela Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM), vai no sentido oposto das pesquisas anteriores, e negam que há evidências do novo coronavírus no sêmen de pacientes infectados. Este estudo verificou apenas pacientes com diagnóstico positivo.

Esta pesquisa foi dividida entre médicos de urologia da China e dos Estados Unidos, e avaliou 34 homens contaminados pelo Sars-Cov-2 que não haviam se recuperado. Depois de 31 dias após o diagnóstico positivo, não foram encontradas evidências do vírus no sêmen de nenhum dos pacientes testados.

Portanto, na dúvida, é melhor evitar utilizar sêmen como forma de tratamento para Covid-19, pois além de representar um risco imenso à saúde, diante das incertezas de estudos, pode ainda ser mais um vetor de contaminação do vírus, tendo em vista, inclusive, a possibilidade de infeção através do outros patógenos, fungos, bactérias e outros vírus.

Equipe NUJOC

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