Sociedade Europeia de Cardiologia não vê relação entre arritmia cardíaca e uso da hidroxicloroquina

 Sociedade Europeia de Cardiologia não vê relação entre arritmia cardíaca e uso da hidroxicloroquina

Pesquisa vale só para pacientes em fase inicial da doença, e não testou a efetividade do medicamento para a cura da Covid-19

Em vídeo postado no Instagram, publicado no canal do Youtube do presidente Jair Bolsonaro, o jornalista Alexandre Garcia afirma que a Sociedade Europeia de Cardiologia – ESC, na sigla em inglês – teria concluído que a hidroxicloroquina não causa arritmia cardíaca. A informação chegou até nós pelas redes sociais. O estudo foi comandado pelo doutor Alessio Gasperetti, de Milão, conduzido em Zurique, na Suíça, em 7 hospitais, com 649 pacientes de Covid-19, com uso da hidroxicloroquina, entre 10 de março e de 10 de abril.

Desde essa data, diz o jornalista, “já se sabia que não era nada daquilo que anunciaram por aí para assustar você. Tavam mentindo pra você”. Ainda conforme Garcia, os médicos usaram 800 miligramas e depois 200 miligramas duas vezes por dia em pacientes com a Covid-19. “Conclusão: não houve arritmia devida a esse remédio”, arremata. Um por cento teve arritmia, mas não atribuída ao medicamento. O estudo incluiu 46% de homens e 54% de mulheres, com idade média de 62 anos.

A informação de que a hidroxicloroquina não causa arritmia cardíaca ainda está sendo estudada, por isso não é possível afirmar taxativamente que o medicamento não causa problemas cardíacos. Pelo contrário, em estágios avançados, observam-se complicações cardíacas atribuídas ao remédio.

Nesta matéria aqui, do site Trends.br, encontramos uma explicação para o que de fato revela o estudo: “Na verdade, o estudo publicado no dia 25 de setembro no jornal científico EP Europace, da Sociedade Europeia de Cardiologia mostra que o tratamento de curto prazo com hidroxicloroquina não está associado a ritmos cardíacos letais em pacientes com covid-19 cujo risco é avaliado antes de receber o medicamento”.


Presidente Jair Bolsonaro e hidroxicloroquina em cena do vídeo. Imagem: Reprodução/Youtube

A novidade do estudo citado por Garcia e pelo presidente Jair Bolsonaro em pronunciamento em 27 de setembro é que não se verificou alteração significativa do estado cardíaco nos pacientes tratados precocemente com a hidroxicloroquina. Para os casos graves, mantêm-se as evidências de que a droga causa arritmia, e a orientação de não recomendá-la. Você pode conferir o estudo original na íntegra neste link. O estudo também nada diz sobre a eficácia do medicamento em si para o tratamento da Covid-19 – ou seja, ele não testou a eficácia da hidroxicloroquina contra a doença causada pelo novo coronavírus, mas sim a relação entre a droga e a arritmia cardíaca.

Ao finalizar sua fala, Alexandre Garcia ainda faz um apelo à audiência: “Gente, vamos atribuir a quem a mentira, o susto sobre nós? Quantos morreram por causa disso? Quantos milhares de brasileiros morreram por causa disso?”, indaga de forma dramática, no final.

O jornalista inverte a lógica nesse ponto de sua fala, atribuindo as mortes por Covid-19 aos que se opuseram ao uso da hidroxicloroquina, como se ela fosse uma espécie de panaceia para a epidemia ou pudesse ter controlado a disseminação da doença. Vários estudos vêm sendo conduzidos no mundo todo para achar medicamento ou vacina eficaz para a prevenção e a cura para a Covid-19, mas nenhum até agora teve sucesso.

Mesmo na atual fase de refluxo da pandemia, mantêm-se as recomendações de isolamento social, higienização das mãos e uso de máscaras como as únicas medidas comprovadamente eficazes contra a propagação da doença até o momento. Para os infectados, a recomendação segue sendo a busca pelo tratamento médico especializado.

O NUJOC Checagem já verificou vários outros boatos envolvendo a cloroquina, hidroxicloroquina e outros medicamentos contra a Covid-19, como você pode conferir aqui.

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