Vídeo usa trechos de matérias jornalísticas para montar narrativa antivacina

 Vídeo usa trechos de matérias jornalísticas para montar narrativa antivacina

O material induz a erro ao contar só parte da história

O NUJOC Checagem recebeu para verificação uma montagem que está circulando pelas redes sociais. Trata-se de vídeo que reúne diversos trechos de reportagens, todas elas abordando efeitos colaterais das vacinas, sob a legenda “Para vocês que estão com esperança nessas ‘vacinas’”. São cerca de cinco minutos nos quais há trechos de telejornais de emissoras como a TV Brasil, a CNN e a TV Cultura, e entrevista no canal do Youtube da jornalista Lega Nagle.

O vídeo apresenta as chamadas iniciais das matérias e reúne somente informações sobre efeitos adversos das vacinas contra a Covid-19. Começa com reportagem da TV Brasil sobre episódio de morte ligado à vacina desenvolvida pela Oxford e a empresa AstraZeneca.

Na sequência, o material apresenta trechos curtos de matérias da CNN Brasil, TV Cultura, Rede Vida, entre outras emissoras, todas elas sobre efeitos colaterais negativos das vacinas contra a Covid-19. Também há trechos de reportagens sobre a necessidade de manter os cuidados como o uso de máscaras mesmo após a imunização.

Trechos do vídeo: informação descontextualizada. Imagem: montagem sobre captura de tela

No fim, há trecho de uma entrevista com médico imunologista que alerta para o potencial risco futuro das vacinas contra a Covid-19, pelo fato de elas terem sido produzidas de forma acelerada.

Devido à maneira como foi editado, o vídeo apresenta as vacinas como algo perigoso e ineficaz, feito às pressas, que está fazendo vítimas ao redor do mundo e pode alterar a constituição do DNA da espécie humana.

Nas partes, o vídeo apresenta fatos e opiniões de especialistas sobre fatos. Mas no todo o vídeo distorce a verdade, pois deixa de lado todas as informações essenciais sobre as vacinas e sobre o contexto em que estão sendo produzidas. Da maneira como foi construído, o vídeo conta só a parte ruim da história, e se apressa em colocar um “fim” nela, sem dar margem ao outro lado e aos fatos que o contradizem. É como ouvir apenas a acusação em um julgamento, sem dar tempo para a defesa se manifestar.

Os fatos até agora demonstram a eficácia universal das vacinas em geral e as do novo coronavírus em particular, como você pode conferir nestas matérias aqui e aqui. Se é certo que episódios pontuais de reação adversa podem acontecer, como de fato aconteceram e vêm sendo monitorados, mais certo ainda é que a eficácia das vacinas supera largamente os potenciais riscos. Sem elas a humanidade ainda estaria refém de doenças como febre amarela, sarampo e poliomielite.

Polarização – O clima de torcida de futebol que cerca o assunto vacina atualmente no Brasil é o resultado da polarização política, que desde antes da eleição do atual presidente já se fazia sentir no debate público. O problema de tal polarização, apontam os especialistas, é colocar em risco a vida da população em nome da ideologia. Enquanto os grupos radicais disseminam desinformação sobre a vacina, o país segue perdendo vidas para a Covid-19, e ainda sem data definida para o início da imunização.

A pandemia do novo coronavírus tem exigido o esforço de milhares de cientistas em instituições de pesquisa no mundo todo, que buscam um imunizante eficaz para o novo coronavírus, seguindo para isso as etapas e procedimentos padronizados da comunidade científica. O recorte feito no vídeo é uma tentativa de distorcer a verdade tomando de empréstimo o formato e a linguagem do jornalismo.

Mimetismo – O vídeo usa trechos de matérias jornalísticas para dar credibilidade à narrativa. Trata-se de estratégia que vem sendo usada com frequência por disseminadores de informação falsa: imitar ou mimetizar o jornalismo, a fim de ganhar credibilidade.

Diversos estudos recentes na área do jornalismo e da comunicação alertam sobre as formas empregadas por disseminadores de desinformação para enganar ou ludibriar as pessoas. Neste artigo aqui, apresentado no último congresso brasileiro da área da comunicação, o Intercom, você pode acompanhar uma pesquisa que analisa os ataques sofridos por jornalistas desde o início da pandemia no Brasil.

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