Vírus da Covid-19 foi criado em laboratório?
O novo coronavírus surgiu em um laboratório ou é de origem animal? Inúmeras pessoas, desde o começo da pandemia da Covid-19 até hoje, diante de boatos e notícias sem credibilidade, tem se questionado sobre o assunto. O comentarista político Paulo Figueiredo, por sua vez, parece ter a resposta pra ela.
Em entrevista concedida no dia 11 de maio de 2021 ao programa Pânico, Paulo, que é neto do ex-presidente da ditadura, João Baptista de Oliveira Figueiredo, fez uma análise sobre a origem do vírus da Covid-19, destacando, através de suas falas, uma possível criação em laboratório do mesmo. A declaração do comentarista foi enviada para nossa equipe pelo aplicativo Eu Fiscalizo (disponível para Android e iOS), da Fundação Oswald Cruz – Fiocruz. O vídeo com a entrevista pode ser acessado aqui.
Segundo ele, o morcego – um possível hospedeiro de vários tipos de coronavírus, inclusive da Covid-19, o vírus causador da pandemia – não tem como passar o coronavírus direto para o humano. Além disso, tem-se ainda outros dois coronavírus: o SARS e o MERS que tiveram hospedeiros intermediários, onde o hospedeiro do SARS foi encontrado em quatro meses e o hospedeiro deste último, em nove. E até o momento, segundo ele, ninguém achou o hospedeiro que causa a Covid-19.
Em um trecho do vídeo logo no início, Paulo Figueiredo destaca a relação do vírus com a cidade de Wuhan. “De onde é que vem o vírus? Vem de Wuhan, na China. Mas o que tem Wuhan? Wuhan tem o laboratório da China que faz pesquisas justamente com coronavírus. Ai você fica: cara pô, mas que coincidência, estranho”, falou ele.
A ideia de criação de um vírus em laboratório, como sugerido pelo comentarista durante a entrevista é falsa. As palavras de Paulo faz suscitar um questionamento frequentemente levantado sobre um vírus criado que já matou milhares de pessoas em todo o mundo e que, dia após dia, tal questionamento é rebatido por cientistas, pesquisadores e pelos órgãos de saúde. Prova disto é que cientistas reunidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para investigar as origens do novo coronavírus anunciaram recentemente, em fevereiro deste ano, as primeiras descobertas sobre o vírus.
Segundo resultado de pesquisas feitas, um mercado de frutos do mar em Wuhan, relacionado com os primeiros casos conhecidos em dezembro de 2019, não foi à fonte original do surto. Ainda de acordo com os cientistas, “é “extremamente improvável” a possibilidade de um acidente de laboratório ter criado o vírus, visto que o vírus já estava circulando localmente antes de ser descoberto”.
O resultado dessas pesquisas faz cair por terra a fala de Figueiredo na entrevista destacando uma declaração do ex-secretário de estado americano Michael Pompeo, do dia 15 de janeiro deste ano, onde o mesmo afirmada que os Estados Unidos já detectaram que as primeiras pessoas que tiveram coronavírus, ou seja, os pacientes iniciais, não foram pessoas que foram ao mercado, mas sim, pessoas que trabalhavam no laboratório de Wuhan.
A equipe internacional de cientistas começou sua investigação em meados de janeiro de 2021, viajando para várias áreas da China, incluindo o Mercado Atacadista de Frutos do Mar de Huanan, destacado no parágrafo anterior. A investigação fez parte de uma missão conjunta entre os pesquisadores da OMS e cientistas locais da China, em um acordo firmado com o governo chinês para a entrada dos cientistas estrangeiros no país. Parte dela envolveu uma visita ao Instituto de Virologia de Wuhan, que foi apontado por alguns como a possível fonte de um acidente de laboratório que de alguma forma liberou o coronavírus de propósito. Até o momento, nenhuma evidência definitiva surgiu, enquanto que outros estudos não encontraram nenhuma indicação de que o coronavírus foi artificialmente feito em laboratório.
O Instituto Gonçalo Muniz – Fiocruz da Bahia, destaca que o SARS-CoV-2 tem origem natural, tendo evoluído a partir de vírus que circulam em espécies animais, como morcegos e pangolins. A explicação para isso deve-se ao fato de que a partir do momento que um vírus misterioso surgido em Wuhan começou a infectar humanos, uma das primeiras atitudes da comunidade científica chinesa foi isolar o vírus e descrever seu genoma – isto é, desvendar as informações genéticas contidas no vírus. Essa descrição foi o ponto de partida para o desenvolvimento de outros estudos, como a investigação sobre a origem do SARS-CoV-2.
“A maneira como identificamos e caracterizamos os vírus atualmente é a técnica chamada sequenciamento de ácido nucleico (DNA ou RNA). Com essa técnica, é como se fizéssemos a ‘impressão digital’ dos vírus”, explica Luciana Costa, professora associada do Departamento de Microbiologia da UFRJ. “Com os dados do sequenciamento, nós comparamos essa ‘impressão digital’ com todas as outras de outros vírus conhecidos e, assim, determinamos o parentesco entre eles. Fazendo isso, nós podemos identificar com mais de 90% de certeza a origem de uma sequência. Podemos dizer, inclusive, se alguns ‘pedaços’ da sequência ou mesmo a sequência inteira foi ‘criada’ pelos seres humanos”.
Ainda durante a entrevista, Paulo Figueiredo levanta o questionamento sobre o financiamento das pesquisas desenvolvidas no laboratório e destaca a relação de algumas pessoas com essas pesquisas. “Mas quem financiava essa pesquisa no laboratório de Wuhan? Os Estados Unidos. E você quer saber quem foi o homem que autorizou essas pesquisas? Doutor Anthony Fauci. Eu sei que parece um filme mas é tudo real e quem não acredita em mim, leia o artigo The Washington Post, um jornal de esquerda americano […], o jornal que os correspondentes brasileiros adoram. Leiam a opinião do Joe Rogan, ele escreveu um artigo porque o congresso americano está cobrando explicações sobre o Anthony Fauci ser suspeito. E você quer saber do melhor? Sabe o artigo da Lancet que eu falei aqui? Sabe quem foi o cara que escreveu o artigo da Lancet? Dr. Peter Daszak. Ele é o presidente de uma empresa chamada EcoHealth Alliance, de Nova York. Essa era a empresa que o governo americano usou para financiar justamente a pesquisa nesse laboratório. O cara que escreveu o artigo negando que o vírus tinha origem chinesa na Lancet é o cara que financiava a pesquisa”, falou Paulo.
O artigo do The Washington Post, o qual cita Paulo, foi escrito por Nicholas Wade, editor da área científica que já passou por vários veículos, dentre eles, as revistas Science e Nature. Neste artigo citado pelo comentarista, Wade expõe, mesmo que sem comprovação alguma, as ‘coincidências’ da pandemia que levam a crer que há uma espécie de conspiração global entre líderes, países, empresas e até a própria Organização Mundial da Saúde com o único interesse de esconder a verdadeira origem do vírus.
Uma das evidências para o que explanou o editor é que existe em Wuhan um laboratório que, antes da pandemia, fazia pesquisas sobre o novo coronavírus e ao contrário do que foi informado no começo da doença, os primeiros infectados com a Covid-19 não estavam em um mercado em Wuhan, mas teriam sido trabalhadores do laboratório que conduzia pesquisas sobre o coronavírus, o que tem sido refutado recentemente após comprovações de cientistas e pesquisadores que mostram, assim como já abordado nessa matéria, que o vírus circulava localmente antes mesmo de ser descoberto, pondo ao chão mais um ponto explanado por Paulo durante entrevista .
Ainda segundo Figueiredo, nada se fala na mídia brasileira. “Isso está em todos os jornais, mas você sabe o que eu li na mídia brasileira? Nada. Absolutamente nada”. Para ele, a ausência dessas informações significam dar razão para ao presidente Bolsonaro. “[…] Não li absolutamente nada porque a mídia brasileira só sabe trabalhar assim: esse assunto é bom para o Bolsonaro? Tira! Esse é ruim para o Bolsonaro? Bota pra cima!”, disse ele.
O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, em uma de suas entrevistas sugeriu que o vírus da Covid-19 pode ter sido criado em laboratório, onde a china seria a responsável para ganhar vantagem na disputa geopolítica. Ainda segundo ele, “o gigante asiático pode ter se beneficiado com o vírus”, disse ele.
Além de defender a tese de criação de um vírus em laboratório, desde o começo da pandemia Bolsonaro defende também o uso de medicamento sem eficácia, insinuando que há interesse da indústria farmacêutica em não promover drogas de baixo custo.
Por não existir nada que comprove a ligação do novo coronavírus a um laboratório de Wuhan, pesquisas seguirão sendo feitas a fim de encontrar respostas e desmentir boatos sem fundamento e notícias sem credibilidade sobre uma doença que tem tirado a vida de inúmeras pessoas e devastado tantas outras que sofrem com a perda de entes queridos.